retificação de nome de gênero - de nós pra nós
 
 

Sobre a gente

 
 
 

Participamos de uma experiência de ocupação do Sesc 24 de Maio, que foi decisiva para nosso encontro e constituição enquanto um coletivo. Entre os meses de outubro de 2019 e fevereiro 2020, nos instalamos como parte da 21ª Bienal Sesc_Videobrasil, cujo tema não poderia ser mais propício: Comunidades Imaginadas. Ali, no térreo da unidade, em uma mesa ao pé da rampa de acesso aos andares superiores, passamos a reunir a nossa própria comunidade – tão imaginada quanto carnal – de corpas trans que modificam temporariamente os fluxos de circulação daquele espaço. Nossa presença reuniu uma multidão notável, produzindo convivências inesperadas. Pessoas trans passaram a ocupar o espaço, mobilizadas por aquilo que permite que os encontros se realizem: o nosso nome próprio.

 
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O coletivo PoupaTrans, constituído por mulheres trans, surgiu a partir dessa primeira experiência como um projeto promotor de ações que possam contribuir para o acesso da população trans ao direito de retificação do nome e/ou do gênero em documentos oficiais. A possibilidade de alteração dos registros fora de processo judicial se tornou viável em 2018. Contudo, a burocracia e os custos envolvidos no processo ainda constituem barreiras à efetivação deste direito, que se estendem especialmente entre pessoas trans economicamente vulneráveis, negras e com vínculos sociais fragilizados. Foi contra as dificultosas escadas burocráticas, podemos imaginar, que o PoupaTrans tentou construir rampas que facilitem os deslocamentos das pessoas trans através da garantia do reconhecimento oficializado de seus nomes. 

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É notável que o direito ao próprio nome caminha junto com a diminuição de algumas das violências sofridas por pessoas trans. Contudo, é importante reconhecer que o enfrentamento às exclusões apenas começa aí, o que nos convoca a pensar sobre o trabalho coletivo, de indivíduos e de instituições, necessário para ampliar e garantir os acessos. Diante dos receios que corpas dissidentes carregam nos seus deslocamentos, podemos nos perguntar: como pessoas trans se relacionam com espaços presumivelmente construídos para serem acessíveis para todes?  Todos os dias, durante os meses que estivemos no SESC, muitas pessoas nos abordavam perguntando “onde fica o banheiro?”.  Se a pergunta era feita por pessoas cis, ao ouvirem nossa resposta, elas seguiam pelas rampas ou pelo elevador; já se eram pessoas trans, a resposta era acompanhada de uma nova pergunta: “e a gente pode usar esses banheiros?”. O banheiro, neste caso, é exemplo concreto, mas também uma metáfora. 

Os quatro meses da experiência do PoupaTrans no SESC e o fluxo que ela atraiu deixaram explícita a importância de ações como essa, ainda mais por ter sido realizada entre pares: de pessoas trans para pessoas trans. E isso também nos mostra que a demanda é contínua, que os fluxos não se interromperão e que o que foi uma ação pontual, de fato, deveria ser um serviço permanente. O acesso confortável de corpas como as nossas a espaços como o do Sesc deveria ser a regra, não a exceção.

 

texto produzido para a 1ª edição da Revista Rampa, do sesc 24 de Maio.

 

O Poupatrans é parte do VoteLGBT, organização que esteve presente em nossa história desde o início. Somos reflexo do compromisso do VoteLGBT em garantir o protagonismo real de pessoas trans, travestis e não-bináries em espaços onde nossas experiências, apesar de importantes e necessárias, foram preteridas. Para conhecer mais das ações do VoteLGBT, acesse votelgbt.org.

 
 
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